A tomada de decisão ocorre primariamente a partir de processos inconscientes.
Sem dúvida, dos diversos processos cerebrais que fazem parte da nossa rotina (tanto profissional quanto pessoal), a tomada de decisão é um dos recursos mais utilizados ao longo do nosso dia.
São inúmeras as questões que precisam ser respondidas a cada hora, desde as situações mais simples como a roupa que vamos vestir, o que vamos comer ou o horário que vamos para a academia, até as mais complexas, como qual estratégia utilizar com o cliente, quais slides colocar numa apresentação para a diretoria ou até mesmo, contratar e demitir membros da equipe. Nesse contexto, garantir uma tomada de decisão eficiente torna-se um processo chave para assegurar uma boa produtividade, em todos os aspectos da nossa vida.
Por muitos anos consideramos que o lado racional do ser humano era capaz de assegurar que tudo o que fazíamos era baseado em processos conscientes. Porém, ao contrário do que pensávamos, a tomada de decisão não ocorre de forma puramente racional. Diversos estudos em Neurociência mostram que as emoções desempenham um papel fundamental na tomada de decisão, sendo responsáveis por coordenar o nosso comportamento a maior parte do tempo. Sensações como o frio na barriga, boca seca e o suor na palma das mãos, tão comuns de serem vivenciadas no momento em que decisões importantes precisam ser tomadas, são na verdade respostas emocionais consideradas essenciais para que este processo ocorra de maneira adequada.
Um dos principais estudos em Neurociência, desenvolvido por Antonio Damásio com pacientes que tinham lesão cerebral, mostrou que, a ausência de respostas emocionais fazia com que os pacientes não fossem capazes de tomar boas decisões, apesar de sua capacidade cognitiva estar intacta. Esse estudo é considerado uma referência importante na literatura, e deu origem a diversos outros trabalhos que seguiram mostrando como a resposta emocional inconsciente é essencial para que possamos ponderar ganhos e perdas, aspectos positivos e negativos, e assim, fazer boas escolhas.
Um estudo publicado na revista Nature trouxe ainda mais evidências a respeito da influência dos aspectos inconscientes no processo de tomada de decisão. Um grupo de pesquisadores australianos foi capaz de prever as escolhas que os participantes fariam até 11 segundos antes deles declararem conscientemente suas decisões. Nesta pesquisa, utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) e machine learning para análise dos resultados, 14 participantes tinham 20 segundos para escolher entre dois padrões distintos de imagens. Ao tomarem sua decisão, os participantes deveriam ficar por 10 segundos mentalizando a imagem escolhida (técnica conhecida como imagética). Finalmente, eles foram perguntados “o que você imaginou?” e “o quão vívido você conseguiu imaginar?”. As respostas eram dadas através do computador, permitindo que os pesquisadores analisassem suas escolhas posteriormente, em conjunto com os dados de atividade cerebral.
Os resultados do estudo foram bastante intrigantes. O padrão de atividade cerebral observado em áreas como córtex pré-frontal (importante para o processo de tomada de decisão) e o córtex visual (relacionado ao processamento da visão e imagética), até 11 segundos antes da tomada de decisão consciente dos participantes, eram capazes de prever a escolha explícita dos mesmos. Os autores discutem que ao nos depararmos com uma situação de escolha entre duas ou mais opções, traços de pensamentos ainda inconscientes a respeito dessas decisões estão presentes no cérebro e influenciam nossas escolhas. À medida que a decisão é tomada, as áreas executivas do cérebro escolhem o traço de pensamento cujo padrão de atividade é mais forte. Em resumo, estes achados sugerem que a tomada de decisão ocorre primariamente a partir de processos inconscientes, e são estes processos que ao se tornarem mais robustos atingem a consciência e dão origem à decisão propriamente dita.
O mais interessante é ver que apesar de todo o conhecimento disponível, ainda hoje seguimos com a expectativa de que o ser humano é um animal majoritariamente racional, e que seríamos de alguma forma capazes de tomar decisões “neutras”, isentas das respostas emocionais e inconscientes. Quando levamos para o ambiente profissional, é ainda mais comum ignorarmos estes processos inconscientes e termos a falsa sensação de que temos tudo sob o nosso controle, não é mesmo?
No ambiente de trabalho a habilidade de tomar decisões é fundamental para o exercício da liderança, para o trabalho em equipe e até mesmo para o autogerenciamento. No entanto, para que possamos executar bem esta função é necessário ter expectativas acertadas a respeito do que favorece, influencia ou prejudica este processo. A Neurociência Organizacional é sem dúvida uma importante aliada neste contexto, e pode contribuir para a criação de melhores estratégias e práticas de gestão que ajudem a desenvolver esta habilidade.
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Um abraço e até o próximo post!